terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Terceiro Rabisco

Os instantes antes de pegar no sono são aqueles em que me sinto mais viva, com meus devaneios, sonolenta. É vital repassar fragmentos do dia, juntar cada pecinha, levá-las para cama comigo como uma criança leva seus brinquedos. Sem isso o dia parece não ter ordem, sentido ou razão de ser, como frases embaralhadas, simplesmente. O que levei hoje montou-se por sí só. Ou talvez não precisasse de ordem. O ponto é que é impossível lembrar de tudo, e isso em parte me frustra, em parte me consome. Tento me contentar em sentir meus lábios dormentes, o calor do toque sobre minha epiderme fria, olhar a luz das pulseirinhas vermelhas ainda no meu pulso e usar o espaço aberto para a imaginação. Acho que consigo resumir tudo de maneira apropriada: limonada com açúcar.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Segundo Rabisco ou O Para Sempre

O Para Sempre é a mais doce das mentiras, criada para ser sussurrada ao pé do ouvido de quem se ama. Ou quem se acha que ama. O Para Sempre é uma ilusão, dita sem pensar e sem peso. Quem sabe até sem sentimento, apenas para agradar, para arrancar aquele suspiro. Uma mentirinha fundamental, que quando não é dita faz falta. Uma verdade em parte. O Para Sempre não é algo que se sussurre para qualquer um, é dito para poucos, quando deveria ser único. Quando único, o Para Sempre dói, bem de leve, pesa e aperta um pouco, é quase doce. A certeza sái quase como um gemido. O Para Sempre é a mais pura verdade, quando gemido por alguém que vive aquele sentimento sem nome, que não cabe na palavra amor.

É Para Sempre.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Primeiro Rabisco

Para ser sincera ainda não sei por que escrevo. Refletindo um pouco sobre o que passou por mim nestes primeiros anos de consciência (?), percebi que certos acontecimentos vieram meio que ao contrário. Para o mundo, o desenho veio antes da palavra, que por sua vez veio antes da escrita. No meu caso foi tudo de trás para frente. A paixão pelas letrinhas começou logo que aprendi a rabiscá-las e só foi acabar quando cheguei naquela primeira fase meio rebelde da vida. Escrevia versinhos, diários, coisinhas à-toa que ainda procuro quando o sol está quente demais para se sair de casa. A escrita deu lugar à palavra, mas isso durou pouco. Me desconectei disso logo, nunca fui exatamente de falar. Sabe, sempre pensei: temos dois ouvidos, dois olhos e uma só boca. (Se você pensar que temos dois lábios acaba com a minha teoria.) A paixão por traços , imagens e rabiscos começou e as palavras foram deixadas para enferrujar por mais tempo que eu gostaria. Voltei para as minhas palavras pegajosas e anfíbias, apesar de acreditar que meu talento esteja no grafite, na aquarela e nos papéis sem linhas. Todo o cérebro que eu tinha foi para as minhas mãos. (Tenho duas, afinal.)
Não sei também o que esperar deste corpo, acredito que possam sair tanto versos azuis quase infantis em dias de sol forte quanto grunhidos noturnos. Só não vou abandonar meus rabiscos para apodrecer.